(Nota: o trecho a seguir foi retirado do livro "Matthew within Sectarian Judaism", de John Kampen.)
Uma conferência na Southern Methodist University em 1989 marcou uma grande mudança no estudo do primeiro evangelho. Os primeiros resultados dessa nova onda de pesquisas por meio da perspectiva das ciências sociais foram resumidos da seguinte maneira:
1. A comunidade mateana estava situada em um ambiente urbano, talvez na Galiléia ou na Síria, mas não necessariamente em Antioquia.
2. Embora englobasse convertidos gentios, o constituinte étnico da comunidade mateana era predominantemente judeu-cristão.
3. A comunidade mateana é melhor entendida como uma seita dentro do judaísmo.
4. No momento da escrita do evangelho, a comunidade mateana estava encontrando forte oposição do judaísmo farisaico (ou formativo).
5. No centro da disputa com o judaísmo farisaico estava a questão da interpretação e prática da lei judaica.
Essa lista significou um afastamento notável de uma boa parte da erudição mateana anterior.
Um levantamento da erudição crítica sobre Mateus na primeira parte do século XX demonstraria até que ponto o contexto judaico do primeiro evangelho se tornou menos significativo no exame de seu desenvolvimento histórico. Deixando de ser considerada uma composição originalmente hebraica e o mais antigo (daí o mais autêntico?) dos evangelhos, Mateus passou a depender de Marcos e Q, de acordo com os críticos das fontes no século XIX. Isso foi seguido pelo trabalho magistral sobre a crítica da forma, de Rudolf Bultmann, que identificou camadas de texto dentro do desenvolvimento do movimento cristão inicial, mas não as relacionou de maneira significativa com a literatura judaica da época. Os critérios empregados tendiam a enfatizar os desenvolvimentos teológicos no cristianismo primitivo, em vez de enxergar respostas à vida judaica refletida na literatura cristã. Após sua atenção detalhada ao que poderia ser denominado "as microformas", a crítica da redação foi uma tentativa de identificar as posturas teológicas que cada um dos escritores dos evangelhos trouxeram para a sua avaliação do significado de Jesus, geralmente um foco cristológico. Mais uma vez, a experiência judaica do primeiro século foi relegada ao segundo plano em se tratando de ser uma preocupação primária dos intérpretes. Nas mãos de exegetas mais recentes, essa abordagem para uma análise do texto como um todo gradualmente buscou métodos literários para a análise do texto. A crítica literária estava interessada na exploração da dinâmica dentro do texto, frequentemente com um olho para o texto como um modo de comunicação, em vez de para o mundo judaico dentro do qual o texto foi composto e lido. Todos esses métodos inevitavelmente levaram o texto a ser lido principalmente como um texto cristão, com o mínimo de atenção ao seu contexto judaico. A possibilidade de que Mateus deva ser lido principalmente como uma composição judaica não foi levada em consideração durante a utilização desses métodos, que eram predominantes no trabalho erudito em cima do Evangelho Segundo Mateus no século XX.