28/07/2018

A Teologia de Karl Barth


Karl Barth nasceu em 10 de maio de 1886, em uma família burguesa de Basel, Suíça. Seu pai era professor de teologia, especialista no Novo Testamento.

Barth estudou em Berna, Berlin e Marburg, recebendo a influência de Adolf von Harnack e da teologia liberal. Pastor de 1911 a 1921 em Safenwil, uma pequena vila suíça, fez parte, durante um primeiro período, da corrente do assim chamado socialismo religioso. Em 1921, foi nomeado professor de teologia reformada na faculdade de Göttingen devido ao sucesso obtido pelo seu comentário à Epístola de Paulo aos Romanos.

Ensinou em Münster e, em seguida, em Bonn, até 1935, quando foi expulso da Alemanha pelo regime nazista. Daí em diante, até 1964, ensinou em Basel, morrendo em 10 de dezembro de 1968. Barth é um dos (poucos) teólogos que desenvolveram um pensamento articulado e complexo, dividido em várias fases. Em uma primeira fase, os seus mestres foram os teólogos liberais Hermann e Von Harnack; sua leitura preferida eram as obras de Schleiermacher e Kant.

Em 1909, iniciando a sua atividade pastoral, entrou em contato com a questão operária, viu a pobreza material e cultural dos seus paroquianos e se convenceu de que a teologia liberal que havia aprendido na universidade estava distante da condição existencial dos fiéis. Além disso, a eclosão da Primeira Guerra Mundial fez com que Barth se distanciasse de seus mestres alemães que haviam declarado apoio à guerra. Para ele, a mensagem cristã e Jesus Cristo só poderiam ser compreendidos fora dos esquemas históricos.

A fé é um dom da graça, um encontro não dedutível entre o homem e Deus, um salto abissal que não se pode explicar com as categorias filosóficas; ela se situa fora do tempo e da história. As influências de Dostoiévski e Kierkegaard trouxeram Barth aos temas e à sensibilidade do existencialismo, com os quais, no entanto, ele não se identificava: para Barth, a centralidade está em Deus e não no homem e na sua existência.

O resultado maduro dessa primeira fase do pensamento de Barth é ‘A Epístola aos Romanos’ (Der Romerbrief), de 1922 (uma primeira edição, que foi completamente revisada posteriormente, havia sido publicada em 1919), que é o manifesto da assim chamada ‘teologia dialética’. Para Barth, a tarefa da teologia é evidenciar a relação ‘dialética’, de ‘ruptura’, entre Deus e o mundo (o homem, a cultura, a história), ao contrário da teologia liberal, que apoiava uma continuidade entre Deus e o homem, considerando a fé como um elemento da interioridade psicológica do homem e a teologia como a análise histórico-crítica da Escritura.

Segundo Barth, a Revelação de Deus é ‘crise’ do mundo. A Cruz de Cristo torna visível a distância infinita que existe entre Deus e o homem. Enquanto o Deus da teologia tradicional é o cume daquilo que é bom, belo e verdadeiro no mundo, o Deus de Barth é aquele da ruptura e da contradição. Contra uma visão que reduz o cristianismo à categoria do saber histórico e científico, concebendo-o como a máxima expressão do gênio religioso da humanidade, o teólogo suíço afirma que o conteúdo da Bíblia não se constitui de pensamentos corretos dos homens sobre Deus, mas de pensamentos corretos de Deus sobre os homens.

Na Bíblia, não é dito como nós devemos falar com Deus, mas o que ele diz a nós, não como nós encontramos o caminho para alcançar a Ele, mas como Ele buscou e encontrou o caminho nos para alcançar. Na segunda fase, Barth ameniza o tom e descreve a relação entre a fé e a razão não mais de modo contrastante, mas busca conciliar os dois termos.

A fé mantém a sua primazia absoluta, ela é dom de Deus, proveniente da graça e não dedutível pela história e pela psicologia. Todavia, o intelecto não é impedido de desenvolver o seu papel: dentro da fé, cabe ao intelecto buscar entender e compreender. Barth vê esse cenário em Anselmo de Cantuária e no seu ‘Proslogion’. Nessa fase do pensamento, Deus e o homem, fé e razão, eternidade e tempo, estão em uma relação de maior colaboração.

A partir, por fim, dos anos trinta, o pensamento de Barth sofre um desenvolvimento ainda maior, testemunhado pela ‘Dogmática Eclesiástica’ (Kirchliche Dogmatik), obra inacabada, de 13 volumes, que mantém o teólogo ocupado por outros 30 anos. Para Barth, o coração da mensagem cristã é a ressurreição, a salvação, a eleição, a graça e não a condenação, a transcendência, a ira de Deus que rejeita o homem e o mundo.

O relacionamento entre a transcendência de Deus e o encontro com o homem, que na primeira obra era mais desequilibrado a favor do primeiro elemento, se reverte a favor do segundo elemento, sem perder nada; Deus permanece sempre uma realidade transcendente ao homem e jamais é possuído. Além disso, o pilar ao redor do qual deve girar toda a teologia é Cristo, a humanidade de Deus, o lugar no qual Deus se faz homem e restitui uma dignidade ao plano humano e histórico.

Por fim, para o nosso teólogo, quando se fala de Deus em um discurso teológico, é necessário sempre, em primeiro lugar, dar espaço à Revelação que o próprio Deus deu de si mesmo, a sua Palavra, e, para fazê-lo, é necessário estar consciente do limite do pensamento humano, colocando toda ‘filosofia’ a serviço de uma maior compreensão da fé.

Uma síntese extraordinária de todo o pensamento do teólogo de Basel se encontra em um admirado Joseph Ratzinger, o qual, a respeito de Barth, escreveu:

“Karl Barth fez uma distinção, no cristianismo, entre a religião e a fé. Ele estava errado em querer separar completamente essas duas realidades, considerando positivamente a fé e negativamente a religião.

A fé sem a religião é irreal, ela implica a religião, e a fé cristã deve, pela sua natureza, viver como religião. Mas ele tinha razão em afirmar também que, entre os cristãos, a religião pode corromper-se e transformar-se em superstição; em afirmar, isto é, que a religião concreta, na qual a fé é vivida, deve ser purificada continuamente a partir da verdade que se manifesta na fé e que, por outro lado, no diálogo, faz novamente reconhecer o seu próprio mistério e a sua própria natureza infinita”.

Publicado originalmente por Korazym.org.
Escrito por Fabio Cittadini.
Traduzido por Renan Rovaris.