Em sua autobiografia,
após compartilhar algumas experiências frustradas com o movimento ecumênico,
Jürgen Moltmann afirma: "O resultado
da minha participação ecumênica, como confesso de bom grado, é o seguinte: a
minha origem é reformada - o meu futuro é ecumênico." O ecumenismo,
neste caso, é um ecumenismo cristão. A ideia por trás dessa afirmação de
Moltmann é que todas as tradições cristãs têm um fundamento, um ponto de
partida em comum. Se todas as igrejas olharem para esse fundamento, a revelação
de Deus em Jesus Cristo, poderá haver unidade, apesar das diferenças.
A minha origem é
reformada, ou seja, eu sou reformado, participo dessa tradição. Contudo, o meu
futuro é ecumênico, isto é, no futuro, no novo céu e nova terra, no eschaton, todos nós seremos salvos;
todos os cristãos serão salvos, independentemente da tradição. Com esse futuro
ecumênico, podemos enxergar o presente de maneira diferente.
No futuro escatológico
da salvação, na Nova Jerusalém, não existirão apenas protestantes, muito menos
somente reformados. É por isso que nosso futuro é ecumênico, pois, nesse
futuro, serão salvos cristãos de todas as tradições. A minha origem é
reformada, eu interpreto a Bíblia de acordo com a minha tradição, mas meu futuro
é ecumênico porque entendo que a salvação não é algo exclusivo dos cristãos que
compartilham as mesmas visões teológicas que eu tenho. As diferenças teológicas
entre as tradições não podem anular a soberania de Deus na eleição.
Como, então, essa visão
de ecumenismo futuro pode influenciar o nosso presente na convivência com
outras tradições? Se entendermos que não somos os únicos cristãos, se
compreendermos que nem todo reformado é um cristão verdadeiro e que nem todo
cristão verdadeiro é um reformado, se tivermos a humildade de admitir que a
nossa tradição não será a única a estar com o Senhor, se percebermos que,
apesar da divisão das igrejas, o corpo de Cristo não está dividido, então
conseguiremos, hoje, com essa perspectiva de futuro, viver em comunhão com
cristãos de outras tradições.