11/09/2020

Hermenêutica histórica: descrever o passado ou encontrar a verdade? Por Rudolf Bultmann

Nota: trecho retirado do livro "Jesus Cristo e Mitologia", de Rudolf Bultmann, publicado pela editora Fonte Editorial, pp. 41-2.


Podemos ler e interpretar um texto aguçados por outros interesses, de ordem estética ou histórica, de ordem política ou relacionada à história cultural dos estados, etc. No que se refere à interpretação histórica, se dão duas possibilidades: a primeira se estriba em descrever, em reconstruir o passado; a segunda, em extrair dos documentos históricos as lições que necessitamos para nossa vida prática atual. Por exemplo, se pode interpretar Platão como uma figura de auge da cultura ateniense do Século V, porém também se pode interpretá-lo com o intuito de aprender dele a verdade sobre a vida humana. Neste último caso, a interpretação não se deve ao interesse que sentimos por uma época passada da história, senão pela busca da verdade.

Hoje, quando interrogamos a Bíblia, qual é o interesse que nos guia? Não há dúvida de que a Bíblia é um documento histórico, e temos de interpretá-la segundo os métodos da investigação histórica, quero dizer, temos de estudar sua linguagem, a situação histórica de seus autores, etc. Porém, qual é nosso verdadeiro e real interesse? Temos de ler a Bíblia como se se tratasse unicamente de um documento histórico, que nos serviria de “fonte” para reconstruir uma época passada? Ou será que a Bíblia é mais que uma “fonte” histórica? De minha parte, creio que nosso interesse tem de cifrar-se realmente em escutar o que a Bíblia tem a dizer-nos, sobre o que constitui a verdade acerca de nossa vida e de nossa alma, a nós homens modernos.