Nota: trecho retirado do livro "Pecado: a história primitiva de uma ideia", de Paula Fredriksen, publicado no Brasil pela Editora Vozes.
Jesus de Nazaré anunciou a boa-nova de que Deus estava prestes a redimir o mundo. Cerca de 350 anos mais tarde, a Igreja ensinou que a maior parte da humanidade estava condenada por toda a eternidade. A comunidade mais primitiva começou preservando a memória e a mensagem de Jesus; alguns decênios após sua morte, alguns cristãos afirmavam que Jesus nunca tivera um corpo humano carnal. A Igreja que reivindicava as escrituras judaicas como suas insistia também que o deus que disse “Sede fecundos e multiplicai-vos” queria realmente dizer “Sede sexualmente castos”. Cerca de quatro séculos após a morte de Paulo, sua convicção de que “Todo o Israel será salvo” (Rm 11:26) servia para apoiar a crença cristã de que os judeus estavam condenados.
O que explica esta grande variedade nos ensinamentos cristãos antigos? A resposta concisa é: mudanças dramáticas nas ideias cristãs sobre o pecado. Assim como estas ideias cresceram e mudaram na turbulência dos quatro primeiros séculos de cristianismo, também cresceram e mudaram outras: ideias sobre Deus, sobre o universo físico, sobre a relação da alma com o corpo, sobre a relação da eternidade com o tempo; ideias sobre Cristo redentor – e, por conseguinte, ideias sobre aquilo de que as pessoas são redimidas.