Ao abordar esse assunto contencioso, precisamos ser claros, desde o início, sobre o que exatamente um historiador, na qualidade de historiador, pode dizer sobre os milagres de Jesus. Na minha opinião, a afirmação de que um evento em particular é um exemplo de Deus realizando um milagre diretamente nos assuntos humanos é, por sua própria natureza, uma afirmação filosófica ou teológica que um historiador pode, de fato, registrar e estudar, mas não pode, dada a natureza de sua disciplina, verificar. A afirmação de que Deus agiu diretamente em uma dada situação para realizar um milagre é uma afirmação que pode ser feita e conhecia como verdade somente no reino da fé.
Portanto, na busca pelo Jesus histórico, aquilo que um historiador, atuando dentro das restrições de sua disciplina acadêmica, pode fazer é perguntar algo mais modesto: se a afirmação ou crença de que Jesus realizou milagres durante o seu ministério público volta até o Jesus histórico e suas ações, ou se, ao invés disso, ela é apenas um exemplo da fé e da propaganda da igreja antiga reprojetada para o Jesus histórico. (...)
Muitos estudiosos hoje em dia enfatizariam que a realização de milagres, a cura pela fé ou o exorcismo formaram grande parte do ministério público de Jesus e contribuíram muito para a atenção favorável por parte das multidões e para a atenção não muito sadia das autoridades.
Em suporte dessa tendência emergente na terceira busca, eu afirmo que vários critérios suportam fortemente em favor da afirmação generalizada de que, durante o seu ministério público, Jesus afirmou realizar aquilo que chamaríamos de milagres, e que os seus seguidores -- e às vezes até mesmo os seus inimigos -- pensaram que ele fez isso.
John P. Meier, The Present State of the 'Third Quest' for the Historical Jesus: Loss and Gain, Biblica, Vol. 80, No. 4 (1999), pp. 459-487.