No estudo da história, fatos objetivos não existem, o que existem são apenas dados interpretados. Não existe um Jesus objetivo, um artefato ('o Jesus histórico') no fundo do conto literário para ser descoberto ao se limpar todas as camadas de tradição. Tudo o que temos é o Jesus recordado, o Jesus visto através dos olhos daqueles que o seguiram, o Jesus entesourado nas memórias que eles compartilharam e nas histórias que eles contaram e recontaram em seu meio. Da mesma forma, não existem acontecimentos objetivos de pessoas sendo curadas, não existem não-milagres para serem descobertos ao se limpar camadas de interpretação. Tudo o que temos em pelo menos muitos casos é a memória compartilhada de um milagre, a qual foi recontada como tal mais ou menos desde o primeiro dia. O que a testemunha viu foi um milagre, não um acontecimento 'ordinário' que eles interpretaram posteriormente como um milagre. Deve ter havido muitos que experienciaram as ministrações de Jesus para eles como milagres, indivíduos que foram genuinamente curados e livrados, e esses sucessos foram atribuídos, naquele local e naquele momento, ao poder de Deus fluindo por meio de Jesus. É apenas dessa forma que a reputação de Jesus como exorcista e curador poderia ter se tornado tão firme e tão abrangente de maneira tão rápida. Em casos como esses, podemos dizer, o primeiro 'fato histórico' foi um milagre, porque foi assim que o evento foi experienciado, como um milagre, pelos seguidores de Jesus que o testemunharam.
James D. G. Dunn, Jesus Remembered, pp. 672-3.