Jesus and Judaism (E. P. Sanders)
E. P. Sanders está na minha lista top 3 de autores favoritos e eu acredito que ele seja o estudioso do Novo Testamento mais importante do século passado. Nesta obra, após demonstrar os problemas que existem em basear a análise histórica de Jesus nas suas falas, Sanders parte de dois fatos que são os mais seguros de determinar historicamente sobre o Nazareno: o incidente no templo e a morte por crucificação. Verificando que, para Jesus, a ação feita no templo significava um gesto profético que simbolizava a destruição final do local e que ele foi morto por representar uma ameaça à pax romana, o autor conclui que Jesus foi um profeta apocalíptico judeu que esperava uma intervenção final divina no curso normal da história humana.
The Historical Figure of Jesus (E. P. Sanders)
Diferente do seu livro acadêmico sobre Jesus e o Judaísmo, onde parte do incidente no templo para analisar quem era o Nazareno, nesta obra muito mais popular, Sanders oferece sua reconstrução do Jesus histórico para quem não entende nada do assunto. Com todo o plano de fundo contextual necessário, o autor mostra como Jesus foi um judeu que esperava uma intervenção imediata de Deus para mudar o rumo da história e de seu povo. Não é tão bom quanto o primeiro, mas, ainda assim, é um livro de E. P. Sanders e merece ser lido com toda a atenção, principalmente se você não está familiarizado com o tema.
Jesus of Nazareth: King of the Jews (Paula Fredriksen)
O que mais impressiona neste livro é a sagacidade histórica da autora: Paula sabe se portar com respeito e sinceridade diante de suas fontes. Para reconstruir o passado, você precisa se despir de tudo o que sabe em retrospecto e entrar no estado mental de ingenuidade sobre o futuro das pessoas cujas vidas você busca entender e descrever. E a autora faz isso com maestria. As cenas reconstruídas de episódios da vida de Jesus fazem você entrar no mundo dos antigos judeus do segundo templo. Fredriksen explica como o título 'Rei dos Judeus' se relaciona com a morte de Jesus dentro do contexto de domínio romano na Palestina do primeiro século; demonstra por que apenas Jesus foi morto, e não, junto com ele, seus seguidores, e como o seu movimento pôde continuar mesmo após a sua morte. De maneira muito popular, e até quase melhor do que Sanders faz em Historical Figure, a autora fornece todo o contexto histórico necessário para que o leitor entenda o que e como as coisas aconteceram com Jesus de Nazaré. Este livro me lembrou muito Jesus and Judaism, como se ele tivesse sido escrito para o público geral, não para acadêmicos. As conclusões de Fredriksen são praticamente as mesmas de Sanders.
Jesus of Nazareth: Millenarian Prophet (Dale C. Allison)
Allison segue a mesma linha de Sanders: para ele, Jesus foi um judeu apocalíptico que esperava o final dos tempos. O ponto forte desta obra é a maneira com que o autor explica a necessidade de uma fundamentação metodológica correta para se iniciar a análise histórica sobre Jesus de Nazaré. O epílogo deste livro é uma das coisas mais lindas e impactantes que já li sobre o Jesus histórico. Allison recebeu um lugar de direito na minha lista top 5 de autores preferidos sobre o tema.
Jesus (Marcus Borg)
Marcus Borg foi membro do Seminário de Jesus. Como tal, baseia sua análise histórica sobre Jesus primariamente nas falas, isto é, determina quais logions são possivelmente verdadeiros e reconstrói Jesus de Nazaré a partir disso. Eu não gosto dessa abordagem por vários motivos, mas
principalmente porque acho extremamente difícil verificar quais ditos de Jesus são ou não verdadeiros e o nível de alteração que cada um sofreu (a tendência é que os seus
pressupostos acabem pesando muito na escolha daquilo que realmente foi dito por Jesus). Mesmo assim, acho a leitura desta obra muito válida, especialmente pelo mar de informações sobre o tema trazidas pelo autor.
Jesus e as Testemunhas Oculares (Richard Bauckham)
Bauckham foi o primeiro autor não apologeta que li falando a respeito de Jesus. Lembro-me da sensação de estar finalmente entendendo melhor o que eram os evangelhos e de começar a compreender mais claramente quem foi Jesus. Nesta obra (que não me convenceu por completo), o autor defende a ideia de que os quatro evangelhos neotestamentários são baseados em relatos de testemunhas oculares. Minha crítica é a seguinte: é claro que qualquer tradição que exista sobre Jesus veio, em última instância, de uma testemunha ocular (obviamente, ninguém criou Jesus ex nihilo - pode chorar, miticista). Contudo, me parece ingenuidade quase apologética imaginar que tudo o que existe na tradição de Jesus tenha surgido de testemunhas oculares e não (também) de uma visão antiga sobre como o mundo funciona. Strauss precisa ser levado em consideração.